Pulp - Charles Bukowski






Sinopse: No livro, Bukowski narra os episódios da vida de Nick Belane, um detetive particular de Los Angeles. Um cara durão, mas azarado, que divide o seu escritório com as moscas e as baratas, sempre atrasando o aluguel. Em um dia insuportavelmente quente, Belane é surpreendido por uma mulher sexy, de longas pernas, "um glorioso barato de carne", que chega ao seu escritório. Seu nome é Dona Morte. Ela tem um trabalho para o detetive: encontrar Celine, um escritor francês que está morto há 32 anos, mas que ela insiste em dizer que avistou em uma livraria de Los Angeles. Na busca por Celine, Belane também investiga outros estranhos casos, todos envolvendo vigaristas dos mais variados tipos, perseguições, assassinatos, brigas de bar e até uma conspiração alienígena. Dona Morte, uma mulher inacreditavelmente fatal, é a personificação do sentimento que acompanhava Bukowski no período em que escreveu a obra, o de estar vivendo os seus últimos dias. Pulp foi escrito em 1993, nos intervalos entre as sessões de quimioterapia a que Bukowski se submeteu devido à leucemia que o mataria meses mais tarde.



"Andei até a livraria me sentindo meio deprimido. O homem nascia para morrer. O que significava isso? Ficar por aí esperando."

E esta edição foi uma segunda chance que dei ao autor, já que o primeiro livro que li do mesmo foi "Misto Quente" e não nos demos tão bem assim.
Como conhecido por ai, esse enredo ainda tem aquele humor Bukowski de ser, com a acidez usual, palavrões, bebidas, mulheres e algumas frases de efeito.
E, como notei ao tentar me informar mais, é um dos únicos livros que não são protagonizados pelo usual personagem do autor, Henry Chinaski, nos deixando como personagem principal o detetive alcóolatra, Nick Belane.


"Esperamos e esperamos. Todos nós. Não saberia o analista que a espera é uma das coisas que faziam as pessoas ficarem loucas? Esperavam para viver, esperavam para morrer. Esperavam para comprar papel higiênico. Esperavam na fila para pegar dinheiro. E, se não tinham dinheiro, precisavam esperar em filas mais longas. A gente tinha de esperar para dormir e esperar para acordar. Tinha de esperar para se casar e para se divorciar. Esperar pela chuva e esperar pelo sol. Esperar para comer e esperar para comer de novo. A gente tinha de esperar na sala de espera do analista com um monte de doidos, e começava a pensar se não estava ficando doido também."

Como a resenha já diz, Belane acaba recebendo alguns casos um tanto quanto fora do comum. Começando com a presença da Dona Morte, que o oferece um trabalho para encontrar um escritor francês, morto desde 1961, que ela tem certeza de ter visto andando por ai.


" Passei a pensar em soluções na vida. As pessoas que resolviam as coisas em geral tinham muita persistência e um pouco de sorte. Se a gente persistisse o bastante, a sorte em geral chegava. Mas a maioria das pessoas não podia esperar a sorte, por isso desistia."

Com essa pequena trama, somos levados a várias outras histórias, todas com personagens inusitados. Vamos desde mais vigaristas e pessoas com um humor péssimo, que parecem odiar o detetive mais do que qualquer outra pessoa, a alienígenas e outros suspenses sem resposta.



"Todos nós corríamos atrás de nada. Dia após dia. Sobreviver parecia ser a única necessidade. Não parecia bastante."

Bukowki é bem conhecido por seus livros com temas autobiográficos, o que não acontecesse nessa trama apesar de possuir alguns elementos de sua vida.
O livro acaba sendo uma grande interrogação para mim, mas é evidente que o autor preza em manter sua crítica, o humor ácido e toda uma confusão de sentimentos que acabam sendo bem característicos.


"Eu tivera sorte, mas alguns dos passos que dera não os dera inteiramente sem pensar. Em geral, porém, era um mundo horrível, e eu muitas vezes me sentia triste pelos outros."

Acho que é bem aquele tipo de livro que pode fazer algumas pessoas rirem, filosofarem ou só se irritarem com um enredo bem atípico e curisoamente louco.
Os casos acabam tendo algumas ligações que vão sendo mostradas ao longo das páginas, especialmente quando notamos que Nick Belane é um detetive sem muitos padrões e em nada profissional. Ele tem o dom de enrolar seus clientes e tentar sair ganhando, aceitando casos que ele sequer sabe por onde começar a resolver.


"Quer dizer, a gente pensa que todo mundo é sem sentido, aí vê que não pode ser tão sem sentido assim se a gente percebe que é sem sentido, e essa consciência da falta de sentido já é quase um pouco de sentido. Sabe como é? Um otimismo pessimista."

Apesar de continuar sendo um tipo de leitura que não atende ao meu gosto, não posso negar que foi uma experiência interessante. Algumas matérias gostam de analisar o livro como uma metáfora para a morte do próprio Bukowski, por ter sido escrito em uma época em que o autor já não estava bem de saúde. Especialmente referente a personagem Dona Morte, que parece presente em todos os momentos e se tornando quase como uma "solução" para os problemas do personagem.

"Portanto, agora, ali estava eu. Sentado ouvindo a chuva. Se eu morresse agora, ninguém verteria uma lágrima em todo o mundo. Não que precisasse disso. Mas era estranho. Até onde um trouxa pode ficar solitário? Mas o mundo estava cheio de velhos rabugentos como eu. Sentados ouvindo a chuva e pensando para onde foi todo mundo. Aí é que a gente sabe que está velho, quando fica pensando para onde foi todo mundo."

Se arriscar algum tipo de literatura mais "clássica" for sua vontade, recomendo que leia de mente aberta e entre nesse mundo totalmente anormal que o autor nos apresenta. Do contrário, a experiência pode não ser tão interessante, pois definitivamente terminei o livro com um monte de questionamentos =D



"Há seis anos não dava uma boa risada. Tinha tendência a me preocupar quando não havia nada com que se preocupar. E quando havia alguma preocupação real eu tomava um porre."


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